http://revistagloborural.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/1,3916,517888-1641-4,00.html
PHYSALIS É encontrado no país com o nome de saco-de-bode, mas o produto mais vendido é o colombiano: 30 a 40 reais, por quilo
Os moradores da zona rural de Guareí, a 162 quilômetros de São Paulo, andam meio ressabiados. Por conta da proximidade com a capital, muita gente tem se estabelecido por lá e investido em alguma atividade agropecuária. O volume de negócios ainda é tímido, mas nem por isso tudo o que se produz ali beira o comum. Que o diga Arnaldo Moschetto com suas plantações de maná e physalis, frutas que há poucos anos têm conquistado espaço nas gôndolas dos supermercados (leia Fruteira globalizada).
MANÁ Originário da Amazônia, rico em cálcio e fósforo. Seus preços oscilam entre 6 e 16 reais, por quilo
O rótulo de exóticas lhes conferiu especial importância e preço. Um quilo de maná, também conhecido por cubiu no Norte do país, custa entre 6 e 16 reais e a physalis, pequeno fruto envolvido por uma capa protetora que se parece com uma lanterna japonesa, é cotado entre 30 e 40 reais.No entanto, há sete anos Moschetto sequer conhecia esse tipo de cultivo. Em 1996, ele rompeu sociedade com outros dois irmãos em uma empresa transportadora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e mudou-se para a fazenda Santa Luzia, propriedade da família, em Guareí. "A vida metropolitana não fazia mais sentido", justifica. Depois de algum tempo de descanso, passou a cultivar tomate, pimentão e alface hidropônicos e começou a virar produtor rural.
A vida no campo não lhe tirou o tino comercial. Ele logo percebeu que não poderia lucrar muito com a venda de hortaliças e, então, apostou na fruticultura exótica, palavra que significa estrangeiro, mas que nesse caso compreende a produção de frutos incomuns, nacionais ou de outro país. A inexistência de estatísticas não permite que haja uma medida mais precisa desse comércio freqüentado apenas por consumidores de alto poder aquisitivo. O próprio Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas, em São Paulo, reconhece a importância das espécies exóticas mas admite que, por enquanto, não estão contabilizadas na produção nacional, a terceira maior do mundo, com 34,5 milhões de toneladas no ano passado. A Ceagesp - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo, tem sido o melhor termômetro nesse nicho de mercado, cujas vendas oscilam entre 20 e 30 mil quilos por mês.
Não é difícil concluir que Moschetto acertou a mão. As 50 sementes de maná recebidas do Inpa - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, deram origem aos 32 mil pés plantados entre os 1,5 hectare de sua propriedade e na de seus quatro parceiros na região de Guareí. "Fico com um terço da produção deles", informa. A safra de maná varia de 160 a 320 toneladas por ano. Há que se dizer, porém, que o início da profissão de fruticultor não foi nada gloriosa. A aposta num produto desconhecido fez com que sua primeira colheita ficasse completamente encalhada. "Não batalhei por compradores e não fiz marketing", confessa. Para piorar, o Fusarium - fungo que provoca o murchamento da planta - não perdeu a chance de atacar uma plantação novinha em folha, provocando estragos.
Arnaldo Moschetto (acima) se orgulha de ser o primeiro a cultivar comercialmente o maná. Ele também produz e vende mudas (à dir.)
O socorro chegou através dos institutos de pesquisas, que recomendaram o uso de um fungo inoculado no arroz para fazer o contra-ataque. E a liofilização da safra, ou seja, a fruta transformada em pó, foi a alternativa para não perdê-la.Sem querer, Moschetto acabou por descobrir uma brecha no mercado. Ao invés de concorrer com o fruto da Colômbia ou de outros agricultores, ele investiu em outra linha de negócios: comercializa sementes (100 reais por um pacote com 500 unidades), extrato seco para sucos (20 reais a embalagem de 60 gramas) e mudas, que variam de dois a cinco reais. As dificuldades iniciais renderam outra invenção: uma linha de cosméticos, em desenvolvimento, composta por sabonetes, shampoos e sais de banho.
Na Fazenda Santa Luzia, o uso do maná na culinária é comprovado há tempos. Agora, a fruta pode dar origem a uma linha de cosméticos
Tanta devoção a essa fruta rica em cálcio, fósforo e com poderes medicinais de combater o mau colesterol e o ácido úrico, por exemplo, faz com que Luiz Carlos Donadio, professor aposentado da Unesp - Universidade Estadual de São Paulo, em Jaboticabal, interior de São Paulo, alerte para a cobiça desenfreada de um mercado que paga bem pelo novo mas não deixa de ser restrito. "Algumas espécies têm difícil adaptação e nem sempre podem ser cultivadas em larga escala", afirma Donadio que foi o responsável pela implantação de um pomar de frutíferas nativas e exóticas na universidade.(leia Nem tudo o que reluz é ouro).
O maná pede solo rico em matéria orgânica, necessita de consorciamento - menos com solanáceas, como pimentão e tomate - não tolera terra encharcada nem estiagem prolongada e é vulnerável ao ataque de nematóides. Só assim tem condições de frutificar, sete meses após o plantio.Além do maná, que projetou o nome da Fazenda Santa Luzia, Moschetto cultiva a valiosa physalis, cuja produção de 2 a 3 toneladas anuais são escoadas para o comércio sofisticado da capital paulista. O frutinho, chamado no Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil de saco-de-bode, é explorado comercialmente apenas na Colômbia.
O agridoce physalis frutifica cinco meses depois do plantio. A delicadeza é essencial na colheita, pois a fruta é protegida por uma fina capa
Quem se deu bem com a pitaia, fruta nativa do México, foi a baiana Anoemísia Durães Sader. Há 30 anos, quando se mudou para Itajobi, interior de São Paulo, ela recebeu de presente de uma amiga orquidófila algumas mudas desta planta. Anoemísia não poderia supor que três décadas depois cada quilo daquele fruto arredondado de casca vermelha e polpa branca pudesse ser vendido a 60 reais.
Esperta como ela só, renovou o pomar da chácara Santa Helena, que conta atualmente com 2500 pés produtivos e outros 3 mil recém-plantados em 2 hectares. É desta área que ela colhe entre dezembro e maio de 3 a 4 toneladas de pitaias, que têm colocação garantida em supermercados paulistanos. Anoemísia virou especialista no assunto depois de se dar conta do bem precioso que recebeu. Difícil acompanhar sua fala rápida quando dispara a informar que o fruto provém de um cactus, que existem 39 tipos no mundo e embora o México seja o principal cultivador (produtividade de 10 a 12 toneladas por hectare) é no Vietnã que atinge seu maior índice, de 40 a 45 toneladas por hectare.
A pitaia não suporta temperatura abaixo de 18ºC e nem sequer uma semana de seca. "Por isso, no período da estiagem é preciso fazer uso de irrigação por gotejamento", explica. A professora que abandonou as aulas de literatura brasileira para se dedicar à agricultura ampliou sua rede de negócios. Agora, vende mudas por 30 reais cada e começa a produzir polpa com o excesso de produção.
O mangostão vem da Malásia e, no Brasil, é mais cultivado no Pará e na Bahia
O produtor japonês Seiji Inada, em Nilo Peçanha, Bahia, não se impressiona com a valorização destas frutas pelo mercado paulista. Afinal, são espécies conhecidas no Norte e Nordeste, principais regiões produtoras. A Ceagesp paulista, maior entreposto do Brasil, se abastece principalmente dessas pequenas lavouras, que não ultrapassam 5 hectares. Inada, que cultiva especialmente mangostão, rambotan, cupuaçu e guaraná, nunca se preocupou em comercializar sua produção fora do estado. Vende na porta de casa. "Freguês não falta quando se oferece bom preço", argumenta. Lá, o quilo do asiático rambotan não passa dos três reais,mas chega a custar 15 reais nos grandes centros urbanos. Há 30 anos no Brasil, ele só não teve muita sorte quando se endividou para plantar guaraná e o banco não esperou boas colheitas. Devendo, foi obrigado a vender a propriedade de 55 hectares para um patrício que mora no Japão. "Não me chateio mais com isso. O importante é que continuo a trabalhar com a terra", desabafa.
Nativos ou importados, os frutos menos conhecidos estão nas prateleiras de sofisticados empórios e supermercados
ABRICÓ-DO-PARÁ É do tamanho de uma laranja e aparece em toda região amazônica. A polpa carnuda e cor de abóbora é adocicada e aromática. Por isso, pode ser consumida in natura ou usada em doces e sorvetes
ATEMOYA O plantio desse híbrido desenvolvido na África do Sul e Israel é recente no país. Mas os produtores se interessam pela qualidade superior
à da fruta-do-conde. É uma fruta típica de mesa com alto índice de açúcares
TAMARILLO Pertence à família das solanáceas como a batata e o tomate, por exemplo. O fruto colombiano, semiácido e rico em vitamina C só pode ser consumido completamente maduro, quando a polpa fica com consistência gelatinosa
CARAMBOLA De origem asiática, foi introduzida no país em 1817. A planta só não pode ser cultivada em regiões frias. Há variedades que produzem frutos ácidos (ideal para a agroindústria) e doces (para consumo in natura)
BACURI Tem grande importância na Amazônia e em algumas regiões do Nordeste. É pouco maior que uma laranja e sua polpa branca e macia é muito usada pela agroindústria. Os frutos não têm boa apresentação devido à falta de padrão
CANISTEL Pouco conhecida fora da América Central, de onde vem. No Brasil, é cultivada em pequenos pomares. A polpa tem sabor forte e é boa fonte de vitamina A e carboidratos. Pode ser consumida in natura ou batida com leite e sorvete
Não deixa de ser tentador quando as estatísticas revelam que a fruticultura nacional gera 11 bilhões de reais do PIB agrícola, abrange 2 milhões de hectares e emprega 4 milhões de pessoas. Melhor ainda, saber que frutas regionais como graviola, carambola, sapoti e açaí, originárias do Norte e Nordeste do país, são cada vez mais cobiçadas pela Europa. O professor Luiz Carlos Donadio, da Unesp - Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal, interior de São Paulo, não se contenta apenas com a perspectiva internacional. No seu modo de ver, o mercado brasileiro também não dá o devido valor as suas frutas típicas.
Segundo Donadio, uma infinidade delas, como abiu, butiá, bacuri, marolo e cabeludinha ainda se mantêm no anonimato. Há quase 30 anos o agrônomo se dedica à fruticultura, tendo implantado na Unesp um pomar com mais de 500 espécies de frutíferas nativas e exóticas e um banco de germoplasma com mais de 100 espécies, a partir das quais é possível avaliar seu desempenho em função das condições ambientais. Tamanha dedicação resultou na publicação de dois livros: Frutas Brasileiras e Frutas Exóticas.
Quem compartilha a precaução é o pesquisador José Uzeda, da EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, em Conceição do Almeida, no Recôncavo Baiano. Na sua opinião, os novos pomares raramente apresentam doenças porque ocupam pequenas áreas. Isso não quer dizer que estejam livres de doenças como antracnose, causada por fungos que provocam ulcerações nas folhas. O pesquisador aconselha os agricultores a manter a cautela e não se deixarem seduzir por propagandas baseadas na semelhança entre países produtores nem no preço, por enquanto em alta.
PHYSALIS É encontrado no país com o nome de saco-de-bode, mas o produto mais vendido é o colombiano: 30 a 40 reais, por quilo
Os moradores da zona rural de Guareí, a 162 quilômetros de São Paulo, andam meio ressabiados. Por conta da proximidade com a capital, muita gente tem se estabelecido por lá e investido em alguma atividade agropecuária. O volume de negócios ainda é tímido, mas nem por isso tudo o que se produz ali beira o comum. Que o diga Arnaldo Moschetto com suas plantações de maná e physalis, frutas que há poucos anos têm conquistado espaço nas gôndolas dos supermercados (leia Fruteira globalizada).
MANÁ Originário da Amazônia, rico em cálcio e fósforo. Seus preços oscilam entre 6 e 16 reais, por quilo
O rótulo de exóticas lhes conferiu especial importância e preço. Um quilo de maná, também conhecido por cubiu no Norte do país, custa entre 6 e 16 reais e a physalis, pequeno fruto envolvido por uma capa protetora que se parece com uma lanterna japonesa, é cotado entre 30 e 40 reais.No entanto, há sete anos Moschetto sequer conhecia esse tipo de cultivo. Em 1996, ele rompeu sociedade com outros dois irmãos em uma empresa transportadora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e mudou-se para a fazenda Santa Luzia, propriedade da família, em Guareí. "A vida metropolitana não fazia mais sentido", justifica. Depois de algum tempo de descanso, passou a cultivar tomate, pimentão e alface hidropônicos e começou a virar produtor rural.
A vida no campo não lhe tirou o tino comercial. Ele logo percebeu que não poderia lucrar muito com a venda de hortaliças e, então, apostou na fruticultura exótica, palavra que significa estrangeiro, mas que nesse caso compreende a produção de frutos incomuns, nacionais ou de outro país. A inexistência de estatísticas não permite que haja uma medida mais precisa desse comércio freqüentado apenas por consumidores de alto poder aquisitivo. O próprio Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas, em São Paulo, reconhece a importância das espécies exóticas mas admite que, por enquanto, não estão contabilizadas na produção nacional, a terceira maior do mundo, com 34,5 milhões de toneladas no ano passado. A Ceagesp - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo, tem sido o melhor termômetro nesse nicho de mercado, cujas vendas oscilam entre 20 e 30 mil quilos por mês.
Não é difícil concluir que Moschetto acertou a mão. As 50 sementes de maná recebidas do Inpa - Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, deram origem aos 32 mil pés plantados entre os 1,5 hectare de sua propriedade e na de seus quatro parceiros na região de Guareí. "Fico com um terço da produção deles", informa. A safra de maná varia de 160 a 320 toneladas por ano. Há que se dizer, porém, que o início da profissão de fruticultor não foi nada gloriosa. A aposta num produto desconhecido fez com que sua primeira colheita ficasse completamente encalhada. "Não batalhei por compradores e não fiz marketing", confessa. Para piorar, o Fusarium - fungo que provoca o murchamento da planta - não perdeu a chance de atacar uma plantação novinha em folha, provocando estragos.
Arnaldo Moschetto (acima) se orgulha de ser o primeiro a cultivar comercialmente o maná. Ele também produz e vende mudas (à dir.)
O socorro chegou através dos institutos de pesquisas, que recomendaram o uso de um fungo inoculado no arroz para fazer o contra-ataque. E a liofilização da safra, ou seja, a fruta transformada em pó, foi a alternativa para não perdê-la.Sem querer, Moschetto acabou por descobrir uma brecha no mercado. Ao invés de concorrer com o fruto da Colômbia ou de outros agricultores, ele investiu em outra linha de negócios: comercializa sementes (100 reais por um pacote com 500 unidades), extrato seco para sucos (20 reais a embalagem de 60 gramas) e mudas, que variam de dois a cinco reais. As dificuldades iniciais renderam outra invenção: uma linha de cosméticos, em desenvolvimento, composta por sabonetes, shampoos e sais de banho.
Na Fazenda Santa Luzia, o uso do maná na culinária é comprovado há tempos. Agora, a fruta pode dar origem a uma linha de cosméticos
Tanta devoção a essa fruta rica em cálcio, fósforo e com poderes medicinais de combater o mau colesterol e o ácido úrico, por exemplo, faz com que Luiz Carlos Donadio, professor aposentado da Unesp - Universidade Estadual de São Paulo, em Jaboticabal, interior de São Paulo, alerte para a cobiça desenfreada de um mercado que paga bem pelo novo mas não deixa de ser restrito. "Algumas espécies têm difícil adaptação e nem sempre podem ser cultivadas em larga escala", afirma Donadio que foi o responsável pela implantação de um pomar de frutíferas nativas e exóticas na universidade.(leia Nem tudo o que reluz é ouro).
O maná pede solo rico em matéria orgânica, necessita de consorciamento - menos com solanáceas, como pimentão e tomate - não tolera terra encharcada nem estiagem prolongada e é vulnerável ao ataque de nematóides. Só assim tem condições de frutificar, sete meses após o plantio.Além do maná, que projetou o nome da Fazenda Santa Luzia, Moschetto cultiva a valiosa physalis, cuja produção de 2 a 3 toneladas anuais são escoadas para o comércio sofisticado da capital paulista. O frutinho, chamado no Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil de saco-de-bode, é explorado comercialmente apenas na Colômbia.
O agridoce physalis frutifica cinco meses depois do plantio. A delicadeza é essencial na colheita, pois a fruta é protegida por uma fina capa
Quem se deu bem com a pitaia, fruta nativa do México, foi a baiana Anoemísia Durães Sader. Há 30 anos, quando se mudou para Itajobi, interior de São Paulo, ela recebeu de presente de uma amiga orquidófila algumas mudas desta planta. Anoemísia não poderia supor que três décadas depois cada quilo daquele fruto arredondado de casca vermelha e polpa branca pudesse ser vendido a 60 reais.
Esperta como ela só, renovou o pomar da chácara Santa Helena, que conta atualmente com 2500 pés produtivos e outros 3 mil recém-plantados em 2 hectares. É desta área que ela colhe entre dezembro e maio de 3 a 4 toneladas de pitaias, que têm colocação garantida em supermercados paulistanos. Anoemísia virou especialista no assunto depois de se dar conta do bem precioso que recebeu. Difícil acompanhar sua fala rápida quando dispara a informar que o fruto provém de um cactus, que existem 39 tipos no mundo e embora o México seja o principal cultivador (produtividade de 10 a 12 toneladas por hectare) é no Vietnã que atinge seu maior índice, de 40 a 45 toneladas por hectare.
A pitaia não suporta temperatura abaixo de 18ºC e nem sequer uma semana de seca. "Por isso, no período da estiagem é preciso fazer uso de irrigação por gotejamento", explica. A professora que abandonou as aulas de literatura brasileira para se dedicar à agricultura ampliou sua rede de negócios. Agora, vende mudas por 30 reais cada e começa a produzir polpa com o excesso de produção.
O mangostão vem da Malásia e, no Brasil, é mais cultivado no Pará e na Bahia
O produtor japonês Seiji Inada, em Nilo Peçanha, Bahia, não se impressiona com a valorização destas frutas pelo mercado paulista. Afinal, são espécies conhecidas no Norte e Nordeste, principais regiões produtoras. A Ceagesp paulista, maior entreposto do Brasil, se abastece principalmente dessas pequenas lavouras, que não ultrapassam 5 hectares. Inada, que cultiva especialmente mangostão, rambotan, cupuaçu e guaraná, nunca se preocupou em comercializar sua produção fora do estado. Vende na porta de casa. "Freguês não falta quando se oferece bom preço", argumenta. Lá, o quilo do asiático rambotan não passa dos três reais,mas chega a custar 15 reais nos grandes centros urbanos. Há 30 anos no Brasil, ele só não teve muita sorte quando se endividou para plantar guaraná e o banco não esperou boas colheitas. Devendo, foi obrigado a vender a propriedade de 55 hectares para um patrício que mora no Japão. "Não me chateio mais com isso. O importante é que continuo a trabalhar com a terra", desabafa.
Nativos ou importados, os frutos menos conhecidos estão nas prateleiras de sofisticados empórios e supermercados
ABRICÓ-DO-PARÁ É do tamanho de uma laranja e aparece em toda região amazônica. A polpa carnuda e cor de abóbora é adocicada e aromática. Por isso, pode ser consumida in natura ou usada em doces e sorvetes
ATEMOYA O plantio desse híbrido desenvolvido na África do Sul e Israel é recente no país. Mas os produtores se interessam pela qualidade superior
à da fruta-do-conde. É uma fruta típica de mesa com alto índice de açúcares
TAMARILLO Pertence à família das solanáceas como a batata e o tomate, por exemplo. O fruto colombiano, semiácido e rico em vitamina C só pode ser consumido completamente maduro, quando a polpa fica com consistência gelatinosa
CARAMBOLA De origem asiática, foi introduzida no país em 1817. A planta só não pode ser cultivada em regiões frias. Há variedades que produzem frutos ácidos (ideal para a agroindústria) e doces (para consumo in natura)
BACURI Tem grande importância na Amazônia e em algumas regiões do Nordeste. É pouco maior que uma laranja e sua polpa branca e macia é muito usada pela agroindústria. Os frutos não têm boa apresentação devido à falta de padrão
CANISTEL Pouco conhecida fora da América Central, de onde vem. No Brasil, é cultivada em pequenos pomares. A polpa tem sabor forte e é boa fonte de vitamina A e carboidratos. Pode ser consumida in natura ou batida com leite e sorvete
Não deixa de ser tentador quando as estatísticas revelam que a fruticultura nacional gera 11 bilhões de reais do PIB agrícola, abrange 2 milhões de hectares e emprega 4 milhões de pessoas. Melhor ainda, saber que frutas regionais como graviola, carambola, sapoti e açaí, originárias do Norte e Nordeste do país, são cada vez mais cobiçadas pela Europa. O professor Luiz Carlos Donadio, da Unesp - Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal, interior de São Paulo, não se contenta apenas com a perspectiva internacional. No seu modo de ver, o mercado brasileiro também não dá o devido valor as suas frutas típicas.
Segundo Donadio, uma infinidade delas, como abiu, butiá, bacuri, marolo e cabeludinha ainda se mantêm no anonimato. Há quase 30 anos o agrônomo se dedica à fruticultura, tendo implantado na Unesp um pomar com mais de 500 espécies de frutíferas nativas e exóticas e um banco de germoplasma com mais de 100 espécies, a partir das quais é possível avaliar seu desempenho em função das condições ambientais. Tamanha dedicação resultou na publicação de dois livros: Frutas Brasileiras e Frutas Exóticas.
Quem compartilha a precaução é o pesquisador José Uzeda, da EBDA - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, em Conceição do Almeida, no Recôncavo Baiano. Na sua opinião, os novos pomares raramente apresentam doenças porque ocupam pequenas áreas. Isso não quer dizer que estejam livres de doenças como antracnose, causada por fungos que provocam ulcerações nas folhas. O pesquisador aconselha os agricultores a manter a cautela e não se deixarem seduzir por propagandas baseadas na semelhança entre países produtores nem no preço, por enquanto em alta.
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